Aqui quem vos fala não á apenas um amante do cinema, ou um cara que resolveu escrever críticas sobre filmes. Aqui está uma criança que depois de velha conseguiu reviver a emoção de ver um filme de seu herói favorito nos cinemas, vibrando com cada cena, cada trilha, cada sequência. Passei o dia tentando me lembrar quando foi a última vez que um filme me fez ter esse excesso de euforia dentro da sala de projeções como hoje pela manhã 007 – Operação Skyfall fez comigo.
O filme é o mais ousado de toda franquia. Assim como “Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge” fez para a trilogia de Nolan, Skyfall retorna momentos da franquia 007 onde você jamais imaginou ver novamente, com a tarefa de homenagear 22 filmes já lançados. Um trabalho primoroso que Sam Mendes fez para essa franquia que estava há muito tempo sendo vista como “mais um filme do 007“.
Não posso, e nem quero revelar detalhes na trama, mas para um aproveitamento maior da diversão, retorne aos primeiros filmes. Veja “Dr. No” e entenda a diferença que o cinema de espionagem da década de 60 tem dos filme atuais.
Daniel Craig já tinha me convencido como James Bond em Casino Royale de 2006, sua estréia na pele do espião, porém 007 – Quantum of Solace foi um filme tão mediano que não deu para avaliar o ator no cargo que ocupa por mais do que uma vez. Hoje Daniel se encarrega de ser a cara do espião no filme que marca meio século de uma série. Honrar a personalidade construída por Sean Connery em 1962 e escrita por Ian Fleming em 1953 de um agente galanteador, irônico e sem medo de partir para a ação. Contudo, Daniel apesar de representar bem essa nova fase dos filmes, ainda é muito mais “Mercenários” que James Bond.
Eu fico assustado com o grau de atuação de alguns profissionais. Alguns conseguem expressar muito bem uma mudança de atitude, de opinião ou sentimento apenas com o olhar, e nesse filme somos contemplados pela belíssima Bérénice Marlohe que com seus olhos penetrantes consegue falar para a câmera aquilo que está sentindo. Sua participação como Bond Girl ficará na história por tamanha atuação.
Skyfall, porém não seria o mesmo filme sem a contemplação de minha M favorita: Judi Dench. Como falei no podcast, os filmes de James Bond são marcados por diversos ícones. A música que lhe transmite o heroísmo do filme, a entrada com James Bond atirando contra a tela, as aberturas que deixam qualquer Salvador Dalí repensando nas obras, as galhofadas invenções de Q… Desde 1995 a série ganhou um novo ícone para mim, que é uma senhora de cabelos grisalhos e personalidade forte, que, apesar da idade manda e desmanda em um monte de Zeros Zeros licenciados para matar. E a personagem M depois de Judi Dench nunca mais foi o mesmo. Esse filme foi o auge da trajetória da atriz no papel. Sam Mendes não só a colocou para trabalhar bastante como deu a ela uma importância absurda para o futuro da saga nos cinemas.
O retorno de Q à franquia foi outra bola dentro do filme. Sem esquecer o inesquecível trabalho de Desmond Llewelyn que participou de quase todos os filmes da série, Ben Whishaw deu uma nova vida ao personagem tão querido e abandonado nos últimos anos. O Q da nova geração é um nerd, um jovem com espinhas que “apesar da pouca idade não significa que trará novidades”. Acredito que veremos Ben Whishaw envelhecer no papel, e assim espero.
Assim como todo bom protagonista, um filme desse tipo precisa de um antagonista que faça jus aos méritos do herói. Quem não se lembra do Jaw, Dr. No, Goldfinger… estava faltando um vilão à altura de James Bond. Javier Bardem nasceu para ser vilão, indiscutivelmente. Depois de “Onde os Fracos não Têm Vez” ele será visto com temor por onde passar. Em Skyfall ele faz o vilão (ou posso dizer vilã…) mais caricato desde Jaw. Suas falas são extremamente bem construídas fazendo com que as analogias usadas façam um sentido assustador dentro da trama.
Enfim, se eu fosse você aguardaria ansioso pela próxima sexta, pois com um ano tão morno nos cinemas finalmente temos ao alcance um filme que faz jus ao nome de uma franquia que transcende gerações. Um filme com uma direção de fotografia espetacular, uma trilha memorável (claro que não estou falando da música da Adele… essa eu passo), com atuações ótimas, boas piadas, um ótimo vilão e um desfecho que dispensa palavras. Filmes como esse fazem eu entender porque gosto tanto de cinema. Que venha o próximo e que me surpreenda.