Influências do cinema comercial norte-americao em gêneros como a comédia, o suspense e o drama são quase sempre vistas com antipatia – e não sem razões. Já no nicho da ação, exemplares de outros países que emulam ou se inspiram no irregular modelo Hollywoodiano por vezes surgem como alternativas gratificantes ao maior mercado de cinema do mundo. O sueco “Headhunters” é um deles.

Durante a auto-apresentação de Roger Brown (Aksel Hennie), o filme lembra um heist movie misturado com um estudo de personagem. Brown é um ladrão e comerciante ilegal de obras de arte, e vive uma vida luxuosa-até-demais com a esposa Diana (Synnøve Macody Lund). Já bastante endividado, ele descobre que Clas Greve (Nikolaj Coster-Waldau), ex-CEO da empresa de GPS Hote, herdou um quadro que vale milhões, e decide roubar a peça.

Quando a perseguição tem início, após um incidente com o comparsa de Roger, Ove (Eivind Sander), o estudo de personagem se transmuta em uma luta pela sobrevivência. Aí, é questão de acompanhar as tensões e escapadas cada vez mais interessantes.  É um estudo do ser humano quando exigido ao limite, e, neste aspecto, o diretor Morten Tyldum encontra um eixo que sabe elaborar com competência.

De partida, temos um homem que pode ter experiência em ações furtivas, bem planejadas e viver segundo um conjunto estrito de regras. No entanto, quando a ação começa, ele é jogado em diversas situações inesperadas, e tem de solucioná-las em um átimo para sair com vida. Hennie, de acordo, nunca demonstra estar no controle, pois em momento algum Roger se revela um espião com anos de treinamento especial – saída cada vez mais comum em Hollywood –, e, assim, suas fugas ocorrem no fim de momentos de suspense genuíno.

É verdade que nada no roteiro acontece à revelia da trama, resultando em uma cadeia de acontecimentos em que cada mínimo detalhe se amarra. Até instantes mais estapafúrdios, como o que se passa na cabana de Ove, se revelam essenciais para arredondar as arestas da história. Especialmente no final, fraco tanto pelo tom irreverente quanto pelas pontas soltas que são obsessivamente atadas, essa necessidade fere o resultado e referencia um mau costume do cinema de ação.

Apesar disso, e dos rascunhos psicológicos tolos de Roger, são os detalhes que temperam a trama e a salvam de uma mera adequação ao formato norte-americano. Minúcias como o medo que o protagonista tem de cachorros, que intensifica determinado confronto, ou a perseguição em um trator – ornado com um objeto bastante peculiar –, ou até mesmo a liberdade para mostrar uma (justificada) cena do mais explícito gore. E, salvo superinterpretação minha, a presença de dois policiais obesos serve à trama de um jeito bastante inusitado. A montagem é um tanto desencontrada no geral, mas as cenas com ação física são bastante bem feitas.

Também interessante é a presença de Diana em detrimento de alguma paixão conquistada ao longo das correrias, pois o relacionamento dos dois vai ganhando novas facetas com um fundamento anterior. Não é um romance rasgado, nem predominante, mas, ao cumprir tanto a cota de adrenalina quanto o aspecto sentimental do protagonista, “Headhunters” permite uma divertida escapulida do cinema de ação dos Estados Unidos.

Matéria de Pedro Costa De Biasi