Durante a semana de lançamento de “Os Vingadores” (The Avengers, 2012) tive uma permanente sensação de déjà vu com relação à vangloriação generalizada feita em cima deste novo londa de super heróis da Marvel. A mesma reação do público geral foi testemunhada por mim na época em que foi lançado “Avatar” (Avatar, 2009), um filme que achei incrivelmente bem feito, executado à frente do pano de fundo da história, tão típica e previsível. Todos os elogios que ouvi sobre “Avatar“não casavam com o fato daquele filme ser tão limitado e pouco ambicioso em sua história, o que fez dele apenas uma ótima experiência sensorial, mas pouco memorável.

Assim, é com a mesma estranhesa que presencio esta nova onda de elogios disparados sobre “Os Vingadores“, que pouco ou nada oferece além daquilo que tantos outros filmes de super heróis já fizeram. Foi com pouca espectativa que entrei na sala de projeção para assití-lo, o que dava certa vantagem ao longa de me surpreender, mas não foi isso o que ocorreu. “Os Vingadores” é um filme típico, e eu certamente falaria pouco sobre ele, não fosse toda essa euforia que o cerca.

Fazer filmes de super heróis não é novidade nenhuma. Tivemos alguns filmes do Super-Homem (Superman, 1978), do Hulk (The Incredible Hulk, 1977), o Batman de Tim Burton (Batman, 1989) e outros “Batmans”; tivemos também Robocop (Robocop, 1987) e muitos outros que não me vem à memória agora. Mas foi com o estouro dos efeitos especiais e sua crescente acessibilidade que decolou os filmes de heróis que vem sendo lançados de uns tempo para cá.

No meio de todos esses lançamentos a pergunta que fica é: o que “Os Vingadores” tem à oferecer diante de tantos outros lançamentos? Sei que o mercado cinematográfico não é exatamente uma competição, mas o mérito deve ser atribuído aos que o merecem. O que faz esse filme merecer tanto mérito? “Os Vingadores” não chega a ser um filme ruim, ele não erra em nada, mas o que ele tem de “mais”?

Aqui estão alguns filmes de super heróis de destaque: Batman Begins (Batman Begins , 2005); Batman – O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight, 2008); V de Vingança (V for Vendetta, 2006); Watchmen (Watchmen , 2009), O Homem Aranha 1 e 2 (Spider-man, 2002; Spider-man 2, 2004) e X-Men (X-Men, 2000; X-Men United, 2003; X-Men – The Last Stan, 2006). Vou ousar mais e incluir Os Incríveis (The Incredibles, 2004) nesta lista, mas veja que este não foi adaptado dos quadrinhos, mas sim criado genuinamente pelo cinema.

Aqui estão “outros” filmes de heróis: Demolidor- O Homem Sem Medo (Daredevil, 2003); O Justiceiro (The Punisher, 2004); Quarteto Fantástico (Fantastic Four, 2005); O Homem Aranha 3 (Spider-man 3, 2007); Lanterna Verde (Green Lantern, 2011); O Besouro Verde (The Green Hornet, 2011); Hellboy (Hellboy , 2004); Lara Croft – Tomb Raider (Lara Croft – Tomb Raider , 2001); X-Men Origens – Wolverine (X-Men Origins – Wolverine, 2009).

Ainda vou acrescentar filmes de heróis criados pelo cinema: MIB – Homens de Preto (Men in Black, 1997) e Hancock (Hancock, 2008). Alguns deles possuem continuação que, pelo benefício de sermos breves, não foram citadas.

Note que, apesar da primeira lista deter os destaques, a segunda lista não possui somente filmes ruins. Alguns deles são quase um insulto, é verdade, os outros são meramente divertidos, mas nada memoráveis. A questão é que, na primeira lista, foram citados filmes que foram inovadores, ousados e/ou meticulosamente dirigidos e obtiveram bons resultados. Merecem destaque. V de Vingança e Watchmen foram adaptações muito bem conduzidas, que conseguiram transportar para as telas o cenário e a mensagem das histórias originais, ambas escritas por Allan Moore. Christopher Nolan dirigiu Batman Begins e Batman – O Cavaleiro das Trevas. Nas condições em que vários outros diretores teriam apelado para os efeitos especiais, Nolan evitou ao máximo o uso destes. O resultado: seus filmes ficaram impressionantes e convincentes. A prórpia história do Batman, sua origem sombria e o surgimento de um herói de um trauma é um prato cheio a cineastas e foi bem aproveitado por Nolan. Os dois primeiros Homem Aranha foram eficientes na apresentação de seus personagens e na condução das histórias e das cenas de ação. Os filmes dos X-Men também soube aproveitar seus personagens e as possibilidades que ofereciam, e ainda acertaram ao trazes um clima realista para as telas, diferente daquele apresentado nos quadrinhos.

Diante desses exemplos, não vejo outra saída a não ser colocar “Os Vingadores” na segunda lista, jundos com os filmes que encheram nossos olhos de efeitos especiais e nossos ouvidos de barulho e piadas rápidas. Não apenas isso, coloco também na segunda lista todos os filmes que antecederam “Os Vingadores“, com a excessão dos filmes do Hulk. Diga-se de passagem, a diferença entre Hulk (Hulk, 2003), dirigido por Stan Lee, e o Incrível Hulk (The Incredible Hulk, 2008), produzido depois que a Marvel recuperou os direitos sobre os personagens, escancara o modo como esta prefere privilegiar a ação, investindo em filmes “pipoca”, menos substanciais.

Assim, mesmo o bem feitíssimo Homem de Ferro (Iron Man, 2008; Iron Man 2, 2010), o abominável Thor (Thor, 2011) e o assistível Capitão América: O Primeiro Vingador (The First Avenger – Captain America, 2011) vão para a segunda lista. Porque são filmes típicos, pouco ousados e inovadores. Nesse aspecto, merece crétido aqueles que divertem mais, se levando menos a sério (Hancock desmoronou no final justamente por ter mudado sua linha narrativa para um tom muito mais sério e nada convincente).

De fato, “Os Vingadores” é um filme feito para o espectador comum, ou o público médio, como preferir. Aqueles que, como eu, são mais cedentos por cinema, sentirão falta de substância, trama, o famoso sentimento de urgência, enfim, todos os elementos que nos envolvem na história.

Acreditando que seus personagens são grandiosos por natureza, e apostando inteiramente neles, o filme falha por não buscar uma trama mais elaborada e convincente. Mesmo sem  a necessidade de apresentar seus personagens, pouco é acrescentado ao que já se sabe deles. Efeitos e barulhos são ferramentas que devem servir à história e intensificá-la. Somente uma mente limitada vai se surpreender com essas trucagens largamente usadas no cinema (e apelar para elas é sempre um sinal de falta de conteúdo, de tentativa de preencher uma história que malemá existe). Até mesmo o vilão  soa pouco ameaçador. E devo acrescentar #SPOILER# que o discurso maquiavélico de Loki, desferido para um punhado de cidadãos (apenas para nivelar terreno para a chegada previsível dos heróis) me fez sentir vergonha alheia.

Não chega a ser um filme chato e/ou tediante. Serve pra passar o tempo e descontrair um pouco, mas, recapturando o que já mencionei, pouco haveria para se falar sobre “Os Vingadores“, não fosse tão grande a resposta do público. Apesar de não ter errado em nada, pouco fez para ser mais do que foi. Não é um filme chato, dá pra se divertir. Mas é típico, o que significa que, se você gosta desse tipo de projeção, irá gostar dessa; se você não gosta, essa também não vai te agradar; se você gostava mas se encheu delas, essa não tem nenhum atrativo.

Matéria de Victor Daud