A maior loucura de Disney: Branca de Neve e os Sete Anões


Por Rodrigo Nascimento

Branca de Neve e Disney

O ano era 1937. Um ano conturbado em muitos lugares do mundo. O Japão invadia a China e dava início a Segunda Guerra Sino-Japonesa, prelúdio da Segunda Guerra Mundial. No Brasil, Getúlio Vargas assumia poderes ditatoriais e a censura, prisões e torturas passam a ser rotina, inclusive, foi nesse período que Jorge Amado lançou o livro “Capitães de Areia”, romance que mostra a rotina de menores de rua sob a ótica deles e denuncia a desigualdade social como responsável pela marginalidade. Jorge Amado foi preso pela ditadura e alguns exemplares de seu livro queimados em praça pública. O mundo começava a passar por mudanças e se preparar para as feridas que seriam abertas três anos depois. Mas em meio a tudo isso, um americano sonhava como uma criança. Ele sonhava em mudar o mundo, mas não com armas ou protestos! Ele queria usar magia, uma magia totalmente inesperada! O melhor de tudo? Apesar de todas essas coisas ruins que mudariam nosso futuro, a magia desse homem também conseguiu seu espaço e também fez história!

Essa história começa no dia 21 de dezembro. Walt Disney estava orgulhoso, ansioso e ao mesmo tempo temeroso. Quantos viriam conferir a ousada obra que lhe consumiu 3 anos de trabalho? O mundo reconheceria sua nova obra-prima? Ali estava seu sonho e tudo o que ele era e principalmente seria dali em diante. A linha que dividia o sucesso e o fracasso estava estampada com destaque naquela seção de cinema. Era a Premier de “A Branca de Neve e os Sete Anões”.

Em 1934 Walt e seu estúdio trabalhavam exclusivamente com pequenas animações. Geralmente, todas as seções de cinema exibiam pequenos documentários e desenhos antes dos filmes, fazendo daqueles desenhos quase “trailers”, ou seja, recebiam total atenção de uns e completo desprezo de outros que aguardam apenas o início da seção pela qual haviam pagado. Conseqüentemente, o ramo dos curtas animados não estava trazendo para Walt o lucro que ele esperava e que precisava, visto que ele buscava renda para ampliar os seus negócios e aumentar o seu estúdio. Se as pessoas iam ao cinema para ver um filme e antes dele um curta animado, porque não poderiam ir ao cinema para fazer o contrário? Fazer de um desenho a seção principal era a idéia ideal ousada e genial que poderia transformar a forma como a animação era vista na época e alavancar os negócios de Walt. Começava ali o processo de “Branca de Neve”.

Como sempre fazia com suas criações, Walt começou a planejar cuidadosamente a sua empreitada. Qual história poderia animar? Que tipo de história levaria as pessoas a ver um desenho que até então durava apenas alguns minutos para algo que teria que ter no mínimo 1 hora? “Branca de Neve” foi logo a primeira opção. A história era perfeita, pois havia marcado Walt de uma forma que ele nunca se esquecera. Uma filmagem de Branca de Neve ainda em cinema mudo estrelada por Marguerite Clark teria sido provavelmente o primeiro filme visto por ele, ainda em sua adolescência. Uma analogia interessante do fato: Como Branca de Neve fora o primeiro filme que Walt havia assistido, e o filme o havia marcado, ele concluiu que, se sua idéia desse certo, aquele seria o primeiro desenho animado de longa metragem que seria visto tanto por ele mesmo, quanto por aqueles que se aventurassem a assisti-lo! Será que essas pessoas seriam marcadas como ele havia sido depois daquela sessão muda? Seria ela mesma. A história da menina que, por ser mais bela que sua madrasta, seria levada a fugir para a floresta e se refugiar na casa de sete anõezinhos, enquanto aguardava a chegada da velha mendiga com uma maça envenenada e do seu príncipe encantado para acordá-la e levá-la montada em seu reluzente cavalo branco.

Ao partilhar a idéia com seus colaboradores, todos receberam a idéia com muito espanto. De fato era uma loucura fazer aquilo! Quem agüentaria ficar tanto tempo sentado em uma sala de cinema para ver um desenho animado? Eles acreditavam que as cores brilhantes do desenho cansariam a vista dos telespectadores. Mas Walt estava determinado. Ao apresentar a história, ele simplesmente não a narrava, ele a encenava com todos os detalhes imaginados para a produção.

Em 1934 começava oficialmente a produção de “Branca de Neve e os Sete Anões”. Até sua estréia, em 1937, foram 3 anos de produção e mais de 750 artistas envolvidos no projeto. Os artistas estudavam os movimentos humanos e procuravam reproduzi-los da melhor forma possível. Cada cena era feita por pessoas reais e estudadas pelos animadores. Tudo passava por esse processo, desde os movimentos das roupas até das barbas dos anões. Para economizar na produção, as cenas iam sendo animadas sem cor para testes de animação, se aprovadas, passavam para as outras fases, caso não, eram descartadas e arquivadas. Não se sabe ao certo, mas talvez “Branca de Neve” seja um dos animados Disney que mais tenham esse tipo de material arquivado. Uma das cenas mais famosas e velha conhecida dos fãns é a seqüência da “Música na Sopa”! Cena essa obrigatória nos documentários e especiais desse animado. Walt ousou em todos os aspectos e fez tudo o que ele queria e imaginava. Ele tentava tudo, sem medo.

Ponderando sobre o medo da equipe, que insistia no que faria as pessoas assistirem um “desenho tão grande”, Walt sabia que precisava acertar em 3 aspectos do filme: a fotografia, as piadas, pois os desenhos precisavam ser divertidos e ao mesmo tempo interessantes, e a história. Todos os cenários e o estilo do filme deveriam passar um clima de inocência e suavidade, dessa forma as vistas não se cansariam e as pessoas poderiam assistir o filme de forma natural, como se estivessem vendo um filme comum. A história, como já comentei, foi cuidadosamente trabalhada e as piadas tiveram uma participação interessantíssima da equipe, pois elas valiam dinheiro! Walt pagava pelas piadas interessantes e engraçadas que pudessem ser acrescentadas ao filme, e por falar em dinheiro, Branca de Neve estrapolou todos os custos previstos, que eram de iniciais $ 150.000 dólares e terminaram em $ 1,5 milhão. No final do processo, nascia uma obra prima, um tesouro tão bem trabalhado e cuidado que era impossível não fazer sucesso.

Hollywood esperava que o filme fosse um total fracasso, porém a missão fora cumprida. Mais de 20 milhões de pessoas foram aos cinemas. Nascia ali o conceito de “Longa Metragem de Animação”. Walt podia comemorar. As dívidas foras pagas e ainda houve lucro. Mas talvez o lucro maior tenha sido nosso, pois aquela linda princesa mudaria não apenas Hollywood, que reconheceu a obra prima homenageando Walt com um Oscar Honorário acompanhado de Sete “Oscarzinhos” entregues pelas mãos da então pequena Shirley Temple, mas as nossas, pois eu não sei o que seria de mim hoje sem Disney, seus desenhos e suas histórias. Um eterno viva para ela!

Branca de Neve e Eu

Assistir a Branca de Neve é sempre um momento nostálgico! Os desenhos Disney tem esse poder. É impossível assistir e não se lembrar dos tempos de infância e ou adolescência. Eu particularmente lembro da tardes após a escola, sentado no sofá, sem preocupações além da lição de casa, assistindo repetidas vezes a ponto de decorar as músicas e algumas falas! A Disney também tem esse poder!

Assistir a Branca de neve nos traz um sentimento de pura inocência e de deslumbramento. Apesar de hoje vermos desenhos tridimensionais quase chegando a perfeição humana, a cada cena de Branca de Neve nos lembramos que o desenho é muita mais antigo que todos nós juntos até que nossos pais, porém parece um desenho feito há apenas alguns anos! É em momentos como esse que podemos entender o frison que esse desenho causou em sua época e porque ele faz sucesso até hoje. O humor é puro e as vezes engraçado de tão bobo e inocente! O amor é mostrado não apensa de uma fomra inocnete, mas de uma forma simples. Penso que as coisas hoje poderiam ser bem mais fáceis se amar fosse tão simples assim. Tudo é mágico. Preciso dizer que Walt acertou em cheio! E fico surpreso em ver o que esse homem conseguiu! Como alguém consegue influenciar tantas gerações?

Para mim, a única coisa que faltou foi a seqüência da música na sopa animada e posta no filme. Adoro esse parte também!


Branca de Neve e Você!

Quando assistir novamente, repare que ao redor do espelho mágico, existe os 12 signos do zodíaco! Ainda mais curioso é na canção da limpeza, quando os esquilos jogam a poeira na toca do ratinho pode-se notar uma chave no chão, encostada na parede! A pergunta – Que chave é essa? Branca de Neve foi indicada ao Oscar de Melhor Trilha Sonora, porém não ganhou o premio, mas ganhou o Grand Biennale Art Trophy no Festival de Veneza.

Em 1989, a Biblioteca do Congresso dos EUA contribuiu para inscrever Branca de Neve definitivamente nos anais da história do cinema, incluindo-o no rol dos 25 primeiros filmes a serem honrados e preservados pelo Arquivo Nacional de Cinema.


“BRANCA DE NEVE E OS SETE ANÕES” chega em Disney DVD em Outubro de 2009.

Author: Léo Francisco

Você nunca teve um amigo assim! Jornalista cultural, cinéfilo, assessor de imprensa, podcaster e fã de filmes da Disney e desenhos animados. Escrevo sobre cinema e Disney há mais de 18 anos e comecei a trabalhar com assessoria de imprensa em 2010. Além de fundador do Cadê o Léo?!, lançado em 13 de julho de 2002, também tenho um podcast chamado Papo Animado e um canal no YouTube.