O século XX foi pródigo em lançar ícones culturais e é nessa conjuntura que se insere a obra de Walt Disney. Seu estúdio foi pioneiro, lançou o primeiro longa-metragem de animação da história: “Branca de Neve e os Sete Anões“ (1937). Após anos de insucesso, com filmes aclamados pela crítica, mas castigados pela bilheteria, os estúdios Disney lançam o longa “Cinderela“ (1950) e é com ele que a empresa consegue deslanchar. Mais seis animados com heroínas dando as cartas no enredo foram produzidos pelo império de animação nos anos seguintes e fizeram sucesso.Isabela Boscovi, colunista da revista Veja, chegou a afirmar que a Disney é um império sustentado por um punhado de princesas.
Essa afirmação, longe de ser exagero, não deixa de ter uma verdade. As heroínas Disney possuem um perfil cativante, que empolga os expectadores, seja criança ou adulto. As qualidades pessoais de Bela, Jasmine, Ariel ou Cinderela nos mostram também um pouco do perfil dos homens e mulheres do século XX e início do século XXI. A maioria dessas princesas foi adaptada de contos que se espalharam pela Europa na Idade Média e foram coletadas na época do Romantismo por escritores como os Irmãos Grim ou criados nesse mesmo contexto histórico, como no caso de “A Pequena Sereia” (1989) de Hans Christian Andersen.
Branca de Neve, a primeira adaptação dos estúdios Disney causou encanto nos expectadores na época da exibição. A primeira princesa do estúdio é gentil, graciosa, ingênua, não recua diante da opressão da madrasta, amas permanece submissa a ela. Quando, no ápice do filme, ela por ingenuidade aceita da malvada a maçã, que lhe causará a morte (ignorando as advertições dos seus amigos anões), a película expressa um pouco a pureza infantil dos tempos em que não havia esse despejo de informações que temos hoje, e que ás vezes prejudica boa formação das crianças e dos jovens. No entanto, a mesma pureza que resguarda pode pôr em perigo e o exemplo de Branca de Neve é mestre nesta lição. No final do filme, a protagonista é salva ao ser beijada pelo príncipe, pondo em evidência a realidade de uma época em a mulher em quase tudo dependia do homem. Detalhe: Branca de Neve conheceu seu príncipe no início do filme, mas somente no fim há um beijo. Soa estranho nos tempos hodiernos, em que beijo na boca virou cartão de visitas. Depois do sucesso do primeiro filme, Disney lança um filme de princesas treze anos depois.
“Cinderela“ (1950) foi um sucesso. A história da jovem que é tratada como empregada pela madrasta e as meia-irmãs, e só é salva deste calvário quando conhece o príncipe e se casa com ele é o retrato de uma época em que para ascender socialmente, a mulher tinha que se casar com um “bom partido”. Cinderela preserva algumas características de sua precursora, Branca de Neve: é ingênua, prendada, não responde às agressões da madrasta e suas filhas, mas tem um diferencial: é ativa, luta para conseguir ir ao baile do palácio. Talvez por conta disso, seja ela a mais popular heroína da Disney.
Em 1959, vem “A Bela Adormecida“. Aurora, a protagonista é obrigada a viver no ostracismo, longe da família e do castelo até os dezesseis anos, quando a bruxa Malévola a faz dormir para todo o sempre. Não fosse a ação das fadas protetoras de Aurora e do príncipe Filipe, o filme seria bem chato. Aurora é a protagonista menos ativa da filmografia Disney e como as anteriores, tem de ser liberta por meio do príncipe, deixando bem claro a mentalidade da época quanto ao papel feminino: esperar quietinhas para que os homens ajam.
Depois da história de Aurora, a Disney passa por um “jejum de princesas”, só quebrado trinta anos depois com “A Pequena Sereia” (1989), animação que tirou o estúdio do limbo após fracassos de bilheteria. Tanto Ariel quanto as heroínas do ocaso do século XX e início deste século tem em comum a liberdade, o poder de quebrar as regras opressoras, que ameaçam tirá-las da direção de suas vidas. São elas que tomam a iniciativa, como Bela em “A Bela e a Fera” (1991), que indiferente ás investidas do “gostosão” da vila onde morava, aprecia a beleza interior, o que a faz se apaixonar pela Fera. Defendem a vida e a honra de sua família e de seu povo, lutando pela paz (“Pocahontas“ – 1995 e “Mulan“ – 1998). Algumas possuem até mesmo um ego inflado (característica comum, infelizmente no homem pós-moderno) como no caso da Jasmine de “Aladdin” (1992), deixando mais uma vez claro que a cultura é o espelho do tempo.
Por último, as princesas Disney mostram a angústia humana neste começo de século entre o culto exagerado á razão ou a escuta aos apelos da emoção cega como se vislumbra na Giselle de “Encantada” (2007). Mas, assim como a protagonista, o ser humano “cai na real” de que não dá para preservar uma inocência ilimitada sem ser vitimado pela selvageria moderna. O caminho mais prudente é o meio-termo. Viver sem fantasia pode descolorir a vida, mas exacerbá-la pode resultar num escapismo perigoso.
Assim, não existe maneira mais interessante de se compreender o tempo passado e o presente do que mergulhar no seu universo cultural. Os heróis e heroínas dos filmes Disney escondem mais pérolas do que a nossa imaginação suspeita.
Texto: Jandir Freitas Gomes
Uma das franquias com maior força dos estúdios de Walt Disney são as Princesas Disney. Sobre esse assunto, um de nossos visitantes e fã do Planeta Disney, Jandir Freitas Gomes, montou um artigo falando um pouco sobre as principais princesas do estúdio, buscando inspiração numa matéria da revista Veja e num artigo do site Cinema com Rapadura. Confiram abaixo:
O mundo mágico e bem real das Princesas Disney