Como não temos muito costume de falar sobre os lançamentos de Games Disney, o Planeta Disney começa a semana publicando uma matéria especial do amigo e leitor Rodrigo Barros, que comentou e deu algumas dicas sobre o game “Disney Epic Mickey“, que chegou as lojas de todo o Brasil no final do ano passado. Abaixo segue a matéria completa enviada pelo Rodrigo. Divirtam-se e boa leitura.

TENHA UMA AULA DE HISTÓRIA DA DISNEY COM “EPIC MICKEY”

Faltou pouco para ser realmente épico. Lançado em novembro de 2010 com exclusividade para o Nintendo Wii, “Disney Epic Mickey” é um jogo de exploração com pitadas de plataforma que vai divertir toda a família, frustrar os jogadores com pouca paciência e fazer os fãs do camundongo, dos parques e dos curtas clássicos delirarem.

Epic Mickey” tem um enredo simples, mas com umas “pinceladas” (com o perdão do trocadilho) bem profundas para quem se dispor a realmente investir no que está sendo contado. Mas para falarmos do jogo, é preciso primeiro voltar a 1927, quando um jovem Walt Disney criou com seu parceiro Ub Iwerks um simpático personagem chamado Oswald, o Coelho Sortudo. Não entendeu nada, né? Pois é, o jogo pode ter o Mickey no título e na capa, mas Oswald é um personagem tão principal quanto o nosso querido camundongo.

Em 1927, Walt e Iwerks criaram Oswald para uma série de curtas, num contrato assinado com a Universal Studios. Seus curtas foram um tremendo sucesso, e após um ano, Walt resolveu pedir um aumento de orçamento para o seu chefe na Universal. Em vez disso, o sujeito exigiu que Walt aceitasse um corte de 20%, alertando que os direitos sobre o personagem eram deles, e que a maior parte da equipe do Walt já tinha assinado contrato com a Universal. Walt, obviamente, recusou a “oferta” e se desligou do contrato. A Universal continuou com Oswald durante muitos anos, e aqui no Brasil nós o conhecemos com uma cara completamente diferente, membro da turma do Pica-Pau nos quadrinhos. E Walt resolveu criar um outro personagem em 1928, um camundongo faceiro e simpático chamado Mickey Mouse. O resto, como se diz, é história. E essa história teve um epílogo feliz em 2006,  quando o novo CEO da Walt Disney Company, Bob Iger, assumiu o cargo decidido a recuperar Oswald, “o filho pródigo”, o que ele conseguiu fazer para alegria de muitos.

Pois bem, mas e quanto a “Epic Mickey“? O jogo mostra um Mickey no início da carreira, ainda curioso e “malandro”, descobrindo uma passagem pelo seu espelho para o laboratório do mago Yen Sid, aquele de “Aprendiz de Feiticeiro“. Lá, ele vê o mago construir com um pincel mágico uma linda maquete, que ele batizou de Wasteland, ou Terra dos Refugos. Ele criou essa terra para o seu aprendiz, Oswald, e para todos os personagens considerados perdidos. Quando Yen Sid se recolhe, Mickey aproveita a chance para brincar com o pincel e criar uma estátua sua bem no meio da maquete. Só que, sem a habilidade do mago, ele acaba criando um monstro de tinta, o Mancha Negra. Assustado, ele tenta desfazer o monstro e acaba criando uma confusão ainda maior, derramando o pote de tinta e de solvente em cima da maquete, causando grandes danos. Ouvindo Yen Sid voltando, Mickey larga tudo como está e foge de volta para o seu quarto, pra voltar a dormir. E o tempo passa e ele esquece aquilo tudo, estrelando vários curtas e ganhando uma fama mundial incrível. Tempos depois (nos anos 60, pelo que podemos supor, graças à aparição no jogo do longa “A Bela Adormecida“), enquanto dormia, Mickey é raptado para dentro do laboratório de Yen Sid e para dentro da Wasteland pelo Mancha Negra. Tentando resistir, a única coisa que Mickey consegue fazer antes de perder a consciência é apanhar o pincel mágico. Quando desperta, ele está amarrado numa mesa de operações e dá de cara com o Doutor Maluco, aquele do curta de 1933, que está prestes a arrancar seu coração! E se vocês estão pensando que contei algum spoiler, isso tudo acontece antes mesmo de aparecer a tela com o título do jogo! É, aqui ninguém perde tempo, não!

Graças a ajuda do gremlin Gus, aos poucos vamos descobrindo que mundo é aquele e o que está acontecendo, e por que todos parecem tão interessados no Mickey. Não quero contar muito para não estragar as surpresas, mas basta dizer que as emoções são muitas. A Wasteland é baseada na Disneylândia, então temos fases que lembram o castelo da Bela Adormecida, a Main Street, Toontown, Adventureland, Fantasyland, Liberty Square e Tomorrowland. Temos animatronics, aqueles robôs que encontramos nos parques, do Pateta, da Margarida e do Donald, além da presença de personagens clássicos como Horácio e Clarabela. Só que a Wasteland é governada por Oswald, então tudo tem mais cara de coelho do que de camundongo…

Warren Spector, o criador do jogo, realmente teve uma ideia épica. É uma bela história de redenção. Sim, redenção, porque Oswald ressente Mickey. Afinal, o camundongo “roubou” a vida que seria dele e o amor do “pai” de ambos. A cena em que Mickey encontra a “nova” versão da estátua Partners, que existe nos parques, é particularmente tocante. E Mickey, por sua vez, não é exatamente um cara bacana. Tão envolvido com sua própria fama e carreira, ele nem se lembra dos seus velhos amigos! Nem quando Horácio mostra fotos dos desenhos que participaram juntos… Aos poucos, ambos os lados vão reconhecendo seus erros: Mickey vê que precisa assumir a responsabilidade pelos seus atos, reconhecendo que tudo que deu errado na Wasteland é culpa sua; e Oswald vai aprendendo que Mickey não é lá um cara tão mau assim, como todo irmão mais velho aprende sobre o irmão mais novo.

O grande chamariz de “Epic Mickey” é o pincel mágico. Com ele, Mickey pode pintar o cenário, reconstituindo a Wasteland, ou usar o solvente para apagar as coisas. Então, você pode, por exemplo, reformar uma casa que foi apagada para o seu dono ficar feliz, ou pode apagar uma parede para descobrir uma caverna escondida atrás dela. E suas escolhas influenciam o jogo até certo ponto. Todos os vilões e vários desafios podem ser vencidos com tinta (método construtivo) ou solvente (método destrutivo). E não pense que você vai experimentar um jeito e, caso não goste do resultado, vai voltar para experimentar do outro. Como aprendi da pior maneira, o jogo não perdoa nesse ponto: suas decisões trazem consequências. Se usou solvente, paciência. Se perdeu um item colecionável, como os pins, artes conceituais e rolos de filme espalhados pelas fases, já era. Só começando de novo.

Infelizmente, o jogo tem dois defeitos grandes, que se não impedem a diversão, podem fazer muitos desistirem. O primeiro e maior deles é a câmera. Você pode controlara posição dela com o direcional, e pode ligar a versão de 1a pessoa com o botão “1”, mas em certos momentos ela não se mexe. E quando isso acontece, geralmente são momentos em que você PRECISA de uma posição melhor, porque está prestes a saltar para a morte.

O segundo problema, esse mais um incômodo do que um problema é a repetição. Para viajar de um mundo a outro, Mickey utiliza telas de cinema que estão exibindo seus curtas clássicos. Então, ele acaba visitando “Steamboat Willy”, “Clock Cleaners”, “Fantasia”, “Plutopia”, “Lonesome Ghosts” e vários outros. Só que, em certos pontos do jogo, você tem que ir e voltar de uma “terra” para outra. Basicamente, você vai ficar um bom tempo sem querer ver “Thru The Lookin Glass”, depois de jogar “Epic Mickey“…

Enfim, “Epic Mickey” pode não ser verdadeiramente épico, mas é verdadeiramente divertido. Para quem já visitou os parques ou gosta dos velhos curtas do camundongo, é um prato cheio. O texto é engraçado em pontos e comovente em outros. A quantidade de detalhes é avassaladora, são várias as participações especiais, a trilha sonora é magistral e utiliza várias trilhas Disney conhecidas. Vale um aluguel certo, e eu certamente recomendaria a compra. Existe também uma edição especial de colecionador que vem com um DVD com o making of do jogo, imagens conceituais e alguns curtas do Mickey, além de adesivos para o seu console e Wiimote, e uma estatueta do Mickey com o pincel. Lá fora, essa edição sai por US$ 70. Aqui no Brasil, vi vendendo na Saraiva por módicos R$ 400.  A edição comum sai por US$ 49,90 lá e R$ 199,90 aqui.

Author: Léo Francisco

Você nunca teve um amigo assim! Jornalista cultural, cinéfilo, assessor de imprensa, podcaster e fã de filmes da Disney e desenhos animados. Escrevo sobre cinema e Disney há mais de 18 anos e comecei a trabalhar com assessoria de imprensa em 2010. Além de fundador do Cadê o Léo?!, lançado em 13 de julho de 2002, também tenho um podcast chamado Papo Animado e um canal no YouTube.